Tarifas de 50% de Trump sobre o Brasil desencadeiam crise econômica

Tarifas de 50% de Trump sobre o Brasil desencadeiam crise econômica

As ameaças do presidente Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros já desencadearam uma crise econômica em diversos setores, com empresas brasileiras se mobilizando para se preparar para as medidas que entrarão em vigor em 1º de agosto. As tarifas representam uma escalada dramática em relação à taxa atual de 10% e estão provocando cancelamentos generalizados de contratos e projeções de perda de empregos na maior economia da América Latina.

Setor Químico Enfrenta Impacto Imediato

Empresas químicas brasileiras, que exportaram US$ 2,4 bilhões para os Estados Unidos no ano passado, estão enfrentando interrupções imediatas, já que pedidos de exportação estão sendo cancelados para resinas e compostos usados na produção de fertilizantes. Andre Cordeiro, chefe da associação brasileira de química Abiquim, confirmou que uma empresa teve todos os seus contratos com os EUA cancelados, enquanto outras enfrentam cancelamentos parciais e revogação de financiamentos à exportação.

Os efeitos em cadeia vão além das exportações diretas, já que produtos químicos são essenciais em indústrias que vão do petróleo ao aço, de máquinas a commodities agrícolas. Exportadores brasileiros de compensado, que usam produtos químicos para colagem, sofreram cancelamentos de pedidos dos Estados Unidos, enquanto produtores de suco de laranja — que destinaram 42% de suas exportações para a América no ano passado — também dependem de conservantes químicos.

Devastação Econômica Regional Projetada

O governador do estado de São Paulo, Tarcisio de Freitas, alertou que as tarifas poderiam eliminar 120.000 empregos na região e reduzir a economia do estado em até 2,7%. Somente o setor agrícola projeta perdas de US$ 5,8 bilhões, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária.

A indústria aeroespacial enfrenta o que o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, descreveu como "quase um embargo", podendo exigir ajustes na força de trabalho semelhantes aos feitos durante a pandemia de COVID-19. Cerca de 77.000 toneladas de frutas estão atualmente em contêineres aguardando uma solução diplomática antes que estraguem, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas.

Governo mobiliza resposta emergencial

O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, revelou que representantes dos ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores finalizaram um plano de contingência para ajudar os setores econômicos afetados pelas tarifas, com medidas que serão apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana. O plano inclui linhas de crédito e mecanismos de apoio para até 10.000 empresas que podem ser afetadas.

Apesar da abertura do Brasil ao diálogo, Haddad reconheceu que a Casa Branca está bloqueando as negociações, com forças políticas alinhadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro trabalhando para impedir que as conversas sejam iniciadas. As tarifas têm origem no apoio de Trump a Bolsonaro, que enfrenta acusações de supostamente tramar um golpe após sua derrota nas eleições de 2022 para Lula.

Os mercados de café e suco de laranja já reagiram à ameaça, com os futuros do café arábica subindo 1,3% e os futuros de suco de laranja aumentando 6% após o anúncio de Trump. O Brasil fornece cerca de um terço das importações de café dos EUA e mais da metade do consumo americano de suco de laranja.

O prefeito do Recife, João Campos, criticou as tarifas por romperem com 200 anos de relações comerciais entre os EUA e o Brasil, observando que a medida ataca instituições políticas de outro país de uma maneira sem precedentes. "Esta não é uma medida normal", disse Campos durante o evento Expert XP 2025.