Qual a lógica do filme Tenet?

Desde seu lançamento, Tenet, o aclamado filme de Christopher Nolan, tem intrigado e desafiado a mente de espectadores ao redor do mundo. Conhecido por suas narrativas complexas e estruturas temporais não-lineares, Nolan elevou a aposta com este épico de espionagem que brinca com a própria natureza do tempo. Mas afinal, qual é a lógica por trás de Tenet? Vamos desvendar os principais conceitos que regem este universo cinematográfico.
A Inversão e a Entropia: O Coração de Tenet
O conceito mais fundamental para entender Tenet é a inversão. No filme, não se trata de viagem no tempo tradicional, mas sim de uma tecnologia capaz de reverter a entropia de objetos e pessoas. Mas o que é entropia?
Entropia: A Flecha do Tempo
Em termos simples, a entropia é a tendência natural de um sistema isolado de ir da ordem para a desordem, ou seja, para um estado de maior aleatoriedade. É por isso que um copo quebrado não se recompõe sozinho ou que o calor sempre se dissipa. A entropia é o que dá ao tempo sua direção percebida, do passado para o futuro.
Em Tenet, a manipulação da entropia permite que um objeto ou pessoa experimente o tempo de forma inversa. Isso significa que, para nós que avançamos no tempo normalmente, um objeto invertido parecerá se mover para trás. No entanto, para o objeto invertido, o tempo está fluindo normalmente em sua própria perspectiva.
Como a Inversão Afeta a Percepção
Quando um personagem é invertido, ele começa a se mover para trás através do nosso fluxo temporal. Isso leva a cenas impressionantes onde balas voam de volta para uma arma ou carros desbatem de forma invertida. No entanto, o universo ao seu redor ainda está progredindo para frente, o que cria um desafio imenso de adaptação para os invertidos. Eles precisam usar máscaras de oxigênio especiais porque o ar que respiram também está invertido para eles.
O Movimento de Pinça Temporal
Um conceito estratégico crucial em Tenet é o Movimento de Pinça Temporal (ou "Temporal Pincer Movement"). Esta é uma tática de guerra que Christopher Nolan aplica à dimensão temporal.
- Uma equipe avança no tempo normalmente, executando uma operação.
- Simultaneamente, outra equipe é invertida e se move para trás no tempo, também realizando a mesma operação, mas de trás para frente.
O objetivo é que as equipes compartilhem informações e coordenem ações de forma a obter uma vantagem decisiva. Por exemplo, a equipe invertida pode "prever" eventos futuros (porque já os vivenciaram ao se mover para trás) e passar essas informações para a equipe que avança normalmente, e vice-versa. Isso cria um ciclo de aprendizado e execução altamente eficaz e confuso para quem observa de fora.
A Coerência Temporal e o Paradoxo do Avô
Uma preocupação comum em histórias de viagem no tempo é o Paradoxo do Avô (se você voltar no tempo e impedir o nascimento do seu avô, você nunca existiria para voltar no tempo). Tenet, no entanto, parece operar sob a lógica de uma linha do tempo única e determinística.
Essa frase, repetida no filme, sugere que não há múltiplas linhas do tempo ou a capacidade de mudar o passado. Qualquer evento, uma vez ocorrido, sempre ocorreu. Isso implica que as ações dos personagens invertidos já fazem parte da história, não as alterando, mas sim as cumprindo. Eles não estão mudando o passado, mas sim vivenciando-o de uma perspectiva diferente, e suas ações no passado (ou para trás no tempo) são inerentes à linha do tempo principal.
O Algoritmo e a Ameaça Universal
O principal motor da trama é o Algoritmo, um artefato do futuro com o poder de inverter a entropia do planeta inteiro, resultando na aniquilação da existência como a conhecemos. O antagonista, Sator, busca ativar este algoritmo com o objetivo de destruir o presente para "salvar" um futuro distante que está morrendo.
Conclusão: Um Quebra-Cabeça Temporal
A lógica de Tenet não é intuitiva e exige uma imersão completa nos seus conceitos. Não se trata de viajar para um ponto no tempo, mas de mudar a direção do fluxo temporal de entidades específicas, permitindo que o passado e o futuro coexistam e interajam de maneiras únicas. Christopher Nolan nos entrega um filme que é menos sobre entender cada detalhe na primeira vez e mais sobre aceitar suas regras e se deixar levar pela experiência. É um convite a repensar a nossa própria percepção do tempo e causalidade.
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