Novo Nordisk Reduz Previsão de Crescimento com Proibição de GLP-1 Manipulados nos EUA Pendente

Novo Nordisk Ajusta Expectativas de Crescimento para 2025
A Novo Nordisk, gigante farmacêutica dinamarquesa, anunciou uma revisão em suas projeções de crescimento de receita para o ano de 2025. A empresa agora espera um crescimento entre 13% e 21% em taxas de câmbio constantes, uma redução em relação à previsão anterior de 16% a 24%. Da mesma forma, a expectativa para o crescimento do lucro operacional foi ajustada para uma faixa de 16% a 24%, inferior à estimativa prévia de 19% a 27%. Essa mudança de perspectiva ocorre em um momento crucial, com a iminente proibição da produção de seus medicamentos GLP-1, como Ozempic e Wegovy, por farmácias de manipulação nos Estados Unidos.
Lars Fruergaard Jørgensen, CEO da Novo Nordisk, atribuiu essa revisão à penetração menor do que o esperado dos medicamentos GLP-1 de marca, impactada pela rápida expansão da oferta de produtos manipulados nos EUA. Apesar disso, a empresa registrou um aumento de 18% nas vendas no primeiro trimestre de 2025 em taxas de câmbio constantes, com o lucro operacional crescendo 20% pelo mesmo critério. As vendas nos EUA apresentaram um crescimento de 17% em taxas de câmbio constantes. As ações da Novo Nordisk subiram após o anúncio, sinalizando que os investidores podem estar otimistas com a perspectiva de recuperação do crescimento das prescrições de Wegovy após a efetivação da proibição pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos EUA.
O Impacto das Farmácias de Manipulação e a Resposta da Novo Nordisk
A permissão para que farmácias de manipulação produzissem versões da semaglutida, princípio ativo do Ozempic e Wegovy, foi concedida pela FDA para lidar com a escassez desses medicamentos. No entanto, com a estabilização do fornecimento, a agência determinou que a comercialização dessas versões manipuladas deve cessar até 22 de maio. A Novo Nordisk estima que as farmácias de manipulação capturaram quase um terço do mercado de medicamentos para obesidade nos EUA, o que Jørgensen classificou como uma situação "sem precedentes" na indústria farmacêutica. A empresa está ativamente focada em coibir a manipulação ilegal e insegura, além de expandir o acesso aos seus tratamentos GLP-1 de marca. Recentemente, a Novo Nordisk firmou acordos com provedores de telessaúde, como a Hims, para oferecer o Wegovy original em vez das versões manipuladas.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também tem se posicionado sobre o tema. Em abril de 2025, a agência decidiu que a venda de medicamentos agonistas de GLP-1 só poderá ser feita com retenção de receita, visando proteger a saúde da população após identificar um número elevado de alertas de eventos adversos. Contudo, a Anvisa manteve a permissão para a venda de versões manipuladas, o que gerou discussões na indústria farmacêutica e entre a comunidade médica. A Novo Nordisk declarou que não fornece semaglutida para farmácias de manipulação e que a segurança de seus medicamentos só é garantida quando utilizados conforme as indicações da bula. Entidades médicas como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Americana de Diabetes (ADA) também desaconselham o uso de agonistas de GLP-1 manipulados, citando riscos associados à qualidade, dosagem e segurança desses produtos não regulamentados. A Anvisa, por sua vez, afirma que a fiscalização das farmácias de manipulação é de competência das vigilâncias sanitárias locais.
Desempenho Financeiro e Perspectivas Futuras da Novo Nordisk
No primeiro trimestre de 2025, a Novo Nordisk reportou vendas de 78,1 bilhões de coroas dinamarquesas (DKK), um aumento de 18% em taxas de câmbio constantes. O lucro operacional atingiu DKK 38,8 bilhões, um crescimento de 20% em taxas de câmbio constantes. A divisão de Cuidados para Diabetes e Obesidade foi o principal motor desse crescimento, com as vendas de tratamentos para obesidade disparando 65% em taxas de câmbio constantes. As vendas do Wegovy, especificamente, cresceram 83% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 2,65 bilhões, embora esse número tenha ficado abaixo das expectativas dos analistas e tenha apresentado uma queda em relação ao trimestre anterior. Já as vendas do Ozempic tiveram um aumento de 15%, superando ligeiramente as previsões. Analistas de mercado, como os do Morgan Stanley e Barclays, apontaram a redução de estoques nos EUA e a crescente concorrência das versões manipuladas como fatores que impactaram as vendas do Wegovy. Apesar da redução nas projeções anuais, o lucro líquido da Novo Nordisk no primeiro trimestre de 2025 cresceu 14% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando as expectativas do mercado.
A empresa continua investindo em pesquisa e desenvolvimento, tendo completado recentemente o estudo REDEFINE 2 para seu tratamento de obesidade CagriSema. Além disso, a Novo Nordisk informou que sua forma oral de semaglutida para obesidade, que poderá ser o primeiro comprimido GLP-1 aprovado para perda de peso nos EUA ainda este ano, será totalmente fabricada no país. A companhia também aguarda uma decisão regulatória no terceiro trimestre deste ano sobre a aprovação do Ozempic para o tratamento da doença hepática conhecida como MASH (esteato-hepatite associada à disfunção metabólica). A Novo Nordisk também está se adaptando a novas diretrizes do governo americano para farmacêuticas, que visam aumentar a produção doméstica, e reiterou seus investimentos de longa data nos EUA, incluindo a construção de uma nova fábrica na Carolina do Norte. A empresa, que se tornou a mais valiosa da Europa, enfrenta um cenário de crescente competição, pressão sobre os preços e mudanças regulatórias, mas segue focada em expandir o acesso aos seus tratamentos inovadores e defender sua participação no promissor mercado de medicamentos GLP-1.
Desafios e Oportunidades no Mercado de GLP-1
O mercado de medicamentos agonistas do receptor GLP-1 tem apresentado um crescimento exponencial, impulsionado pela eficácia desses tratamentos para diabetes e obesidade. A popularidade de medicamentos como Ozempic e Wegovy transformou a Novo Nordisk em uma potência econômica, com impacto visível até mesmo na economia da Dinamarca. No entanto, esse sucesso também atrai desafios significativos. A concorrência está se intensificando, com a Eli Lilly, principal rival da Novo Nordisk, ganhando terreno com seus próprios medicamentos. Além disso, a questão dos preços elevados e o acesso limitado aos tratamentos têm gerado debates e pressão por parte de autoridades e pacientes. A perda da patente de exclusividade do Ozempic no Brasil, prevista para 2026, também abrirá espaço para a entrada de genéricos, o que pode alterar a dinâmica do mercado. Apesar desses obstáculos, o potencial de crescimento para os tratamentos GLP-1 permanece vasto, considerando a prevalência global da obesidade e do diabetes. A capacidade da Novo Nordisk de inovar, expandir sua capacidade produtiva e navegar pelo complexo ambiente regulatório e competitivo será crucial para seu sucesso futuro.
