Lula condiciona diálogo com Milei a pedido de desculpas e tensões persistem entre Brasil e Argentina

Por Mizael Xavier
Lula condiciona diálogo com Milei a pedido de desculpas e tensões persistem entre Brasil e Argentina

Lula exige retratação de Milei por "bobagens" ditas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que só dialogará com o presidente argentino, Javier Milei, após um pedido de desculpas formal ao Brasil e a ele pessoalmente. Lula declarou que Milei "falou muita bobagem" e que essa retratação é uma condição para qualquer conversa entre os dois líderes. Apesar da Argentina ser um parceiro comercial crucial para o Brasil na América do Sul, os presidentes ainda não se encontraram desde a posse de Milei.

Em resposta, o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, afirmou que Milei não se arrepende de suas declarações. Milei, por sua vez, questionou a necessidade do pedido de desculpas, referindo-se a Lula como "corrupto" e "comunista", e minimizou a importância da exigência, classificando-a como uma "discussão de pré-adolescentes". Ele também acusou Lula de interferir na campanha eleitoral argentina.

Histórico de tensões e declarações polêmicas entre Lula e Milei

As tensões entre Lula e Milei antecedem a eleição do argentino. Durante sua campanha, Milei frequentemente criticou o governo brasileiro, chamando Lula de "socialista corrupto" e afirmando que não se reuniria com o líder brasileiro por considerá-lo "comunista". Lula rebateu as críticas, descrevendo as propostas de Milei como "neoliberais perigosas". Recentemente, Milei intensificou os ataques, chamando Lula de "perfeito dinossauro idiota" em uma publicação online.

Apesar das trocas de farpas, analistas ponderam que, por pragmatismo, uma ruptura total nas relações entre Brasil e Argentina é improvável, embora um certo nível de tensão retórica possa persistir. A relação entre os dois líderes é vista como um desafio para a diplomacia e com potencial impacto no Mercosul.

Impacto nas relações diplomáticas e no Mercosul

A deterioração da relação pessoal entre Lula e Milei levanta preocupações sobre a liderança brasileira na América do Sul e a coesão do Mercosul. Embora as relações comerciais na esfera privada e a relação bilateral técnica devam ser mantidas, a ausência de uma boa relação entre os presidentes pode dificultar os planos de Lula de unificar a região. A visita da chanceler argentina, Diana Mondino, ao Brasil reforçou a intenção de manter o relacionamento diplomático na esfera técnica, mesmo sem uma aproximação entre os presidentes.

A primeira visita oficial de Milei ao Brasil, para participar de um evento conservador em Santa Catarina ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, e sem encontro previsto com Lula, exemplifica o distanciamento. O governo brasileiro considerou a participação de Milei no evento como "imprevisível" e não descartou consequências diplomáticas dependendo de suas declarações. Milei, no entanto, evitou mencionar Lula diretamente em seu discurso no evento.

Analistas apontam que, embora as declarações polêmicas de Lula sobre política externa tenham tido, até o momento, custo limitado para o Brasil, a relação tensa com Milei pode gerar desgastes à imagem do presidente brasileiro e da diplomacia nacional. No entanto, ambos os líderes demonstram interesse em avançar nas negociações do acordo entre Mercosul e União Europeia, o que pode representar uma janela de oportunidade para uma postura mais pragmática.

Apesar dos atritos, a diplomacia brasileira tem buscado preservar as relações bilaterais. O encontro entre os chanceleres Mauro Vieira e Diana Mondino sinaliza a tentativa de manter um diálogo construtivo. A expectativa é que o contato entre Lula e Milei em eventos como a cúpula do G20 seja protocolar. Especialistas acreditam que a diplomacia brasileira buscará minimizar o impacto de eventuais observações de Milei em declarações conjuntas, como no G20, ressaltando a força do consenso obtido. A imprensa argentina descreveu o primeiro encontro entre os dois líderes como uma "saudação fria, neutra e gélida".

Opinião pública e popularidade dos presidentes Lula e Milei

Pesquisas de opinião recentes apresentam um quadro misto da popularidade dos dois líderes em seus respectivos países e na América do Sul. Um ranking de dezembro de 2024 da CB Consultoria apontou Milei como o presidente mais bem avaliado da América do Sul, com Lula em quinto lugar. No entanto, uma pesquisa do Instituto AtlasIntel de novembro de 2024 indicou que Lula tem uma aprovação maior no Brasil (50,7%) do que Milei na Argentina (42,8%). Outra pesquisa da CB Consultoria, de abril de 2025, colocou Lula como o terceiro presidente mais bem avaliado na América do Sul, superando Milei, que ficou em quarto.

Outras questões bilaterais envolvendo Lula e Milei

Além das tensões diretas, a relação entre Brasil e Argentina também é permeada por outras questões, como a situação de brasileiros condenados pelos atos de 8 de janeiro que buscaram refúgio na Argentina. Lula mencionou que seu governo está discutindo com as autoridades argentinas para que esses indivíduos comecem a cumprir suas penas no país vizinho, caso não sejam extraditados. O governo argentino cooperou ao fornecer informações sobre esses foragidos.

A recusa de Lula em comparecer à posse de Javier Milei, que por sua vez convidou Jair Bolsonaro, também marcou o início conturbado da relação entre os atuais chefes de Estado. A complexa dinâmica entre Lula e Milei continua a ser um ponto focal nas relações Brasil-Argentina, com implicações para a estabilidade e cooperação regional.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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