Homem com Homem Faz Sexo: Uma Análise Abrangente das Relações e Desafios no Brasil

Por Mizael Xavier
Homem com Homem Faz Sexo: Uma Análise Abrangente das Relações e Desafios no Brasil

Homem com Homem Faz Sexo: Compreendendo a Diversidade e os Desafios

A expressão "homem com homem faz sexo" (HSH) é um termo utilizado em saúde pública e pesquisas para se referir a homens que têm relações sexuais com outros homens, independentemente de como se autoidentificam em termos de orientação sexual. Essa categorização é crucial para direcionar políticas de saúde e prevenção, mas também levanta discussões importantes sobre identidade e estigma.

Aspectos Históricos e Sociais das Relações entre Homens que Fazem Sexo com Homens no Brasil

A história das relações entre pessoas do mesmo sexo no Brasil é longa e complexa. Embora a homossexualidade tenha sido descriminalizada em 1830 com o Código Penal do Império, o estigma social e a discriminação persistiram por séculos. Somente em 1985 o Conselho Federal de Medicina retirou a homossexualidade da classificação de doenças. Um estudo sobre o histórico do casamento homoafetivo ressalta que a luta por reconhecimento e direitos tem sido gradual, enfrentando barreiras de preconceito. A antropologia brasileira tem um papel fundamental no estudo da construção social e cultural da homossexualidade no país, analisando como as identidades sexuais são formadas e vivenciadas em diferentes contextos. Pesquisadores como Regina Facchini destacam a importância de compreender a diversidade sexual e de gênero para combater a discriminação.

A visibilidade e a organização política de lésbicas, gays e pessoas trans ganharam força a partir de marcos como a revolta de Stonewall em 1969, em Nova Iorque, que impulsionou movimentos por reconhecimento e direitos em âmbito internacional. No Brasil, a luta por direitos civis para casais do mesmo sexo culminou no reconhecimento da união estável pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011 e, posteriormente, na Resolução nº 175 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2013, que determinou que nenhum cartório poderia recusar a celebração de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Desde então, milhares de casamentos homoafetivos foram registrados no país.

Saúde Sexual e Prevenção para Homens que Fazem Sexo com Homens

Homens que fazem sexo com homens (HSH) são considerados uma população prioritária para ações de prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), incluindo o HIV. Estudos indicam que a prevalência do HIV entre HSH é significativamente maior em comparação com a população geral no Brasil. Diversos fatores contribuem para essa vulnerabilidade, como o estigma, a discriminação, a desinformação e comportamentos de risco, como sexo desprotegido.

O Ministério da Saúde e organizações como o UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS) desenvolvem estratégias de prevenção combinada, que incluem o uso de preservativos, testagem regular para o HIV e outras IST, profilaxia pré-exposição (PrEP) e profilaxia pós-exposição (PEP). A PrEP, por exemplo, consiste no uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas não infectadas para reduzir o risco de adquirir o HIV. Estudos realizados pela Fiocruz têm investigado a efetividade e a implementação da PrEP entre HSH, incluindo adolescentes. Pesquisas também exploram novas formas de prevenção, como a DoxyPEP, uma profilaxia pós-exposição com doxiciclina para reduzir a incidência de algumas IST.

Apesar dos avanços nas políticas de prevenção, o conhecimento sobre HIV/AIDS entre HSH ainda apresenta desafios. Um estudo realizado em 12 cidades brasileiras em 2016 revelou que apenas uma pequena parcela dos HSH possuía alto nível de conhecimento sobre o HIV/AIDS. Outra pesquisa em Belo Horizonte também apontou uma proporção preocupante de HSH com conhecimento mínimo sobre o tema. Fatores como baixa escolaridade, falta de acesso a serviços de saúde e discriminação podem influenciar o nível de conhecimento e a adoção de práticas preventivas.

A Importância da Categoria HSH e os Desafios do Reconhecimento

A categoria "Homens que Fazem Sexo com Homens" (HSH) foi introduzida internacionalmente no campo das políticas de prevenção do HIV/AIDS para abranger homens que mantêm relações sexuais com outros homens, mas não necessariamente se identificam como gays ou bissexuais. Essa distinção é relevante porque homens que não se identificam como homossexuais podem estar menos engajados com informações e serviços de prevenção direcionados à comunidade gay. No entanto, a utilização dessa categoria também gera debates sobre o respeito à identidade de gênero e orientação sexual. É fundamental que as políticas de saúde considerem a diversidade dentro do próprio grupo de HSH, incluindo homens bissexuais e pessoas trans.

As redes sociais e de contato sexual entre HSH desempenham um papel importante na dinâmica da transmissão de IST e HIV. Compreender essas redes pode auxiliar na disseminação de informações preventivas e na promoção de comportamentos mais seguros.

Direitos e Políticas Públicas para a Comunidade LGBTQIA+

A luta por direitos da comunidade LGBTQIA+ no Brasil tem conquistado avanços significativos, mas ainda enfrenta grandes desafios. A Constituição Federal de 1988 visa promover o bem-estar social e a igualdade jurídica para todos os cidadãos, combatendo qualquer forma de discriminação. Ao longo dos anos, diversas leis e decisões judiciais buscaram garantir direitos para a população LGBTQIA+, como o reconhecimento da união estável e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o direito à retificação do nome e gênero para pessoas transexuais, e a criminalização da homofobia e transfobia.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) tem um papel central no desenvolvimento de políticas públicas de enfrentamento ao preconceito e à discriminação e na promoção dos direitos das pessoas LGBTQIA+. Programas como o "Brasil sem Homofobia", lançado em 2004, e a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política Nacional de Saúde LGBT) buscam garantir o acesso equitativo a serviços públicos qualificados e combater a violência e a discriminação. Recentemente, o MDHC anunciou investimentos significativos para fortalecer políticas públicas para a comunidade LGBTQIA+, incluindo programas de acolhimento e de estímulo ao trabalho digno e geração de renda.

Apesar dos progressos, a violência e a discriminação contra a população LGBTQIA+ ainda são uma realidade preocupante no Brasil. O país continua registrando altos índices de violência contra essa população, conforme relatórios de organizações como a Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA). O estigma e o preconceito dificultam o acesso a serviços de saúde, educação e oportunidades de trabalho, impactando negativamente a qualidade de vida e a cidadania plena de pessoas LGBTQIA+.

Compreender a complexidade das vivências de homens que fazem sexo com homens no Brasil requer uma abordagem multifacetada, que considere os aspectos históricos, sociais, de saúde e de direitos humanos. É fundamental continuar investindo em pesquisa, informação de qualidade e políticas públicas eficazes para promover a saúde, o bem-estar e a cidadania plena dessa população, combatendo o estigma e a discriminação em todas as suas formas.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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