Haddad e o Papa: Encontro no Vaticano Discute Taxação de Super-ricos e Justiça Social

Por Mizael Xavier
Haddad e o Papa: Encontro no Vaticano Discute Taxação de Super-ricos e Justiça Social

Encontro de Visões: Haddad e Papa Francisco Debatem Futuro Econômico e Social

Em um movimento que sinaliza a crescente importância do debate sobre desigualdade econômica no cenário global, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, tem um encontro agendado com o Papa Francisco no Vaticano em junho. A reunião, que ocorrerá à margem de um evento promovido pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, focará na crise ecológica e na justiça social, temas caros a ambos os líderes.

A informação, divulgada inicialmente pela CNN Brasil e confirmada por fontes diversas, coloca em evidência a convergência de pautas entre o governo brasileiro, atualmente na presidência do G20, e a liderança da Igreja Católica. A principal bandeira de Haddad nesse encontro será a proposta brasileira de taxação global dos super-ricos, uma iniciativa que busca angariar fundos para o combate à pobreza e às mudanças climáticas.

A Proposta Brasileira no G20: Taxando os Super-Ricos

Sob a presidência brasileira, o G20 tem impulsionado a discussão sobre uma tributação mínima global para os bilionários. A proposta, elaborada pelo economista francês Gabriel Zucman a pedido do Brasil, sugere um imposto de 2% sobre a fortuna dos cerca de 3 mil bilionários do planeta. Essa medida, segundo estimativas, poderia arrecadar anualmente US$ 250 bilhões. Os recursos seriam destinados a investimentos em saúde, educação e infraestrutura, especialmente em países em desenvolvimento.

Fernando Haddad tem sido um defensor vocal dessa agenda, argumentando que a taxação dos super-ricos é crucial para enfrentar as desigualdades e promover um crescimento econômico mais justo e sustentável. A ideia já obteve o apoio de nações como França, Espanha e Alemanha, além do endosso da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva. Em novembro de 2024, os chefes de Estado e de governo do G20 aprovaram uma declaração que menciona o empenho em garantir que indivíduos de patrimônio líquido ultra-alto sejam efetivamente tributados, um passo considerado importante, embora o caminho para a implementação seja complexo e demande negociações internacionais.

Papa Francisco: Uma Voz Consistente Contra a Desigualdade

O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado em 2013, tem sido um crítico contundente do que chama de "economia da exclusão" e da "idolatria do dinheiro". Em diversas ocasiões, o pontífice denunciou o "capitalismo selvagem" e suas consequências, como o aumento da pobreza e a degradação ambiental. Ele defende que o sistema financeiro deve servir à humanidade, e não o contrário, e já se manifestou favoravelmente à taxação dos super-ricos.

Em sua primeira exortação apostólica, *Evangelii Gaudium*, Francisco afirmou que "essa economia mata". Anos depois, na encíclica *Laudato Si'*, de 2015, e mais recentemente na *Laudate Deum*, de 2023, ele reforçou a conexão entre a crise ambiental e a desigualdade social, apontando a lógica econômica baseada na exploração como raiz comum dos problemas. O Papa também já propôs o perdão das dívidas dos países pobres e tem incentivado o diálogo com movimentos populares e jovens economistas para buscar alternativas ao modelo econômico vigente. A Pontifícia Academia de Ciências Sociais, anfitriã do evento de junho, tem sido um espaço importante para esses debates, promovendo conferências sobre resiliência climática e o impacto das mudanças climáticas em populações vulneráveis.

Convergência de Agendas e Desafios Futuros

O encontro entre Haddad e o Papa Francisco representa, portanto, uma convergência significativa de agendas. Ambos compartilham a preocupação com a crescente desigualdade e a urgência de ações concretas para mitigar as crises social e ambiental. A taxação dos super-ricos surge como um instrumento potencial para promover maior justiça fiscal e angariar recursos para o desenvolvimento sustentável.

Apesar do apoio crescente, a proposta de uma tributação global enfrenta obstáculos políticos e técnicos. A soberania tributária dos países e a necessidade de um consenso internacional amplo são desafios consideráveis. No entanto, a discussão no âmbito do G20 e o respaldo de figuras influentes como o Papa Francisco injetam força e legitimidade na pauta, sinalizando um esforço conjunto para construir um futuro econômico mais equitativo e um planeta mais saudável.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

Ver todos os posts

Compartilhar: