Governo autoriza importação de arroz para estabilizar preços após enchentes no RS

Por Mizael Xavier
Governo autoriza importação de arroz para estabilizar preços após enchentes no RS

Medida Provisória permite compra de até 1 milhão de toneladas pela Conab

Em resposta aos impactos das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, principal estado produtor de arroz do Brasil, o governo federal publicou uma Medida Provisória (MP) autorizando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a importar, de forma excepcional, até 1 milhão de toneladas do grão. A medida, oficializada no Diário Oficial da União, visa recompor os estoques públicos e evitar um aumento descontrolado dos preços ao consumidor. As enchentes causaram perdas significativas nas lavouras e armazéns, além de dificultarem o escoamento da produção devido à interdição de rodovias.

Contexto da decisão e o papel da Conab

A decisão de importar arroz ocorre em um momento delicado para a agricultura gaúcha. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional de arroz. As inundações de maio de 2024 comprometeram uma parte da safra e a infraestrutura logística, gerando temores sobre o abastecimento interno. O ministro da Agricultura e Pecuária na época, Carlos Fávaro, anunciou a medida como uma forma de garantir a estabilidade dos preços e evitar especulações no mercado. A Conab, empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ficou encarregada de realizar a compra por meio de leilões públicos, a preço de mercado. Os estoques adquiridos seriam destinados, preferencialmente, à venda para pequenos varejistas de regiões metropolitanas.

Em um primeiro momento, a Conab realizou um leilão para a compra de 263 mil toneladas de arroz importado. O presidente da Conab, Edegar Pretto, ressaltou a importância da retomada do papel da companhia na garantia do abastecimento e regulação dos preços dos alimentos. O governo federal também anunciou que o arroz adquirido pela Conab teria um preço máximo estipulado ao consumidor, embalado com a marca do governo federal. Essa ação faz parte da Medida Provisória nº 1.217/2024.

Impacto das enchentes na produção de arroz no Rio Grande do Sul e perspectivas para 2025

As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul foram consideradas a maior catástrofe climática da história do estado, afetando mais de 60% do território gaúcho e causando severos impactos na agricultura. Houve perdas significativas nas lavouras de soja, arroz, trigo e milho. Especificamente para o arroz, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) estimou que parte da área que ainda não havia sido semeada na região central do estado, a mais afetada, não seria mais plantada. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) informou que, apesar dos desafios, o estado conseguiu semear quase a totalidade da intenção inicial para a safra 2024/2025.

Um ano após a tragédia, a recuperação ainda é um desafio. Muitos produtores enfrentaram perdas expressivas e dificuldades para acessar recursos e retomar a produção. A erosão hídrica comprometeu aproximadamente 2,7 milhões de hectares de solo, resultando na perda de fertilidade em centenas de municípios. A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) estimou prejuízos de cerca de 7,2 milhões de toneladas de grãos, com um impacto econômico de R$ 12,09 bilhões, sem contar os danos à pecuária.

Apesar do cenário adverso, há esperança de recuperação. Produtores de arroz no Rio Grande do Sul planejam aumentar a área plantada para a safra 2024/2025 em 5,3% em relação à temporada anterior, alcançando mais de 948 mil hectares. A expectativa é também de um aumento de produtividade devido à ocorrência do fenômeno La Niña. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado também celebrou uma colheita recorde de arroz agroecológico na safra 2024/2025, com 14 mil toneladas, marcando uma retomada após anos de perdas devido a extremos climáticos, incluindo as enchentes de 2024.

Preços do arroz no mercado e o papel da Conab

No início de maio de 2025, o preço do arroz em casca operava na casa dos R$ 75 por saca de 50 kg. Esse patamar refletia uma certa estabilidade após um período de negociações em torno de R$ 76 em abril. Pesquisadores do Cepea apontavam uma "queda de braço" entre compradores e vendedores, resultando em baixa liquidez no mercado. A Conab tem um papel crucial na regulação do mercado e na formação de estoques públicos para garantir o abastecimento e estabilizar os preços. A entidade também realiza levantamentos de safra e estimativas de produção. No entanto, houve divergências entre os dados da Conab e do Irga sobre a área plantada de arroz, com entidades do setor acusando a Conab de usar os dados para pressionar os preços para baixo.

É importante notar que, mesmo antes das enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, o Brasil já havia aumentado a importação de arroz no primeiro quadrimestre daquele ano, atingindo um recorde para o período. Essa tendência de aumento nas importações já sinalizava uma dinâmica particular no mercado nacional do grão.

O Ministério da Agricultura e Pecuária, sob a liderança do ministro Carlos Fávaro (em 2024), tem trabalhado em diversas frentes, incluindo a abertura de novos mercados para o agronegócio brasileiro e o lançamento de Planos Safra recordes para apoiar os produtores.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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