Ford Aumenta Preços de Carros Fabricados no México em Resposta a Tarifas, mas Absorve Parte do Custo

Ford Anuncia Aumento de Preços Devido a Novas Tarifas
A Ford Motor Company anunciou recentemente um aumento nos preços de três de seus modelos produzidos no México – o SUV elétrico Mustang Mach-E, a picape Maverick e o utilitário Bronco Sport. Este ajuste, que pode chegar a até US$ 2.000 por veículo, entrou em vigor em 2 de maio de 2025 e afetará os carros que chegarão às concessionárias norte-americanas no final de junho. A medida surge como resposta à imposição de tarifas de 25% sobre veículos importados pelo governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump. A Ford é uma das primeiras grandes montadoras a ajustar seus preços publicamente após a implementação dessas tarifas.
Em comunicado aos seus concessionários, a Ford explicou que os aumentos refletem "ações usuais de precificação no meio do ano, combinadas com algumas tarifas que estamos enfrentando". Crucialmente, a empresa afirmou que não está repassando integralmente o custo das tarifas para os consumidores, absorvendo uma parte do impacto financeiro. Veículos que já se encontravam nos estoques das concessionárias não terão seus preços alterados.
Impacto das Tarifas na Estratégia da Ford e no Mercado Automotivo
As novas tarifas fazem parte de uma política comercial mais ampla da administração Trump, que visa fortalecer a produção doméstica nos Estados Unidos. No entanto, essas medidas têm gerado incerteza e preocupação no setor automotivo. Analistas do setor alertam que, se mantidas, as tarifas podem levar a uma queda significativa nas vendas anuais de veículos nos EUA, potencialmente ultrapassando um milhão de unidades. A Ford estima que as tarifas resultarão em um custo adicional de US$ 2,5 bilhões em 2025. A empresa espera mitigar cerca de US$ 1 bilhão desse impacto através de ajustes operacionais, incluindo o uso de transporte "bonded" para proteger peças de impostos durante o trânsito internacional.
Apesar do aumento nos modelos fabricados no México, a Ford se encontra em uma posição relativamente melhor para absorver os impactos tarifários em comparação com algumas concorrentes. Aproximadamente 79% a 80% dos veículos que a Ford vende nos EUA são fabricados em território nacional. Em contrapartida, empresas como a General Motors (GM) produzem uma porcentagem menor de seus veículos vendidos nos EUA domesticamente (cerca de 53%), o que pode significar uma exposição maior aos custos tarifários. A GM, por exemplo, já cortou sua previsão de lucro para o ano, citando uma exposição a tarifas de até US$ 5 bilhões. Modelos populares e mais acessíveis da Ford, como a picape Maverick, que são fabricados no México, estão entre os mais afetados pelos aumentos.
Perspectivas e Desafios Futuros para a Ford
O CEO da Ford, Jim Farley, tem sido uma voz ativa nas discussões sobre as tarifas, expressando preocupação com sua permanência e os efeitos potencialmente "devastadores" na indústria. Farley prevê que as tarifas continuarão em vigor por pelo menos os próximos três anos e destacou que transferir a produção de modelos acessíveis do México para os EUA aumentaria significativamente os preços para os consumidores. Ele também ressaltou a importância de uma política tarifária abrangente, que não coloque fabricantes específicos em desvantagem competitiva. A Ford também aguarda para ver se poderá receber créditos pelo conteúdo norte-americano nos veículos que importa do México.
A fábrica da Ford em Cuautitlán, no México, tem ganhado importância estratégica, sendo responsável pela produção do Mustang Mach-E, Bronco Sport e Maverick, além de planos para produzir mais dois SUVs elétricos. A empresa tem ajustado sua capacidade produtiva para atender à crescente demanda por esses modelos, inclusive com planos de quase dobrar a produção horária do Mustang Mach-E para 210.000 unidades por ano. O Mustang Mach-E já é comercializado em 37 países e tem lançamento previsto para o Brasil. A decisão de aumentar a produção no México, mesmo diante das tarifas, sublinha a complexidade do cenário atual, onde as montadoras precisam equilibrar custos de produção, logística, demanda de mercado e políticas comerciais instáveis.
A situação atual evidencia a delicada balança que as montadoras globais enfrentam. As tarifas podem incentivar a produção local a longo prazo, mas, no curto e médio prazo, resultam em custos mais altos que, inevitavelmente, são parcialmente repassados aos consumidores, afetando a acessibilidade dos veículos e podendo impactar o volume de vendas. A estratégia da Ford de não repassar o custo total das tarifas demonstra um esforço para manter a competitividade de seus modelos em um mercado cada vez mais sensível a preços.
