Desastres Naturais e o Crescente Deslocamento Humano: Um Recorde Alarmante

Por Mizael Xavier
Desastres Naturais e o Crescente Deslocamento Humano: Um Recorde Alarmante

O Aumento Recorde no Deslocamento Causado por Desastres Naturais

Eventos climáticos extremos como furacões, incêndios florestais e inundações desalojaram um número recorde de pessoas globalmente. Esta crise humanitária, impulsionada pelas mudanças climáticas e outros fatores, exige atenção urgente e ação coordenada em nível mundial. A intensificação desses desastres levanta sérias questões sobre a preparação, resposta e resiliência das comunidades afetadas.

Estatísticas Globais de Deslocamento por Desastres

O Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC), referência mundial em dados sobre deslocamento interno, reportou que, até o final de 2023, 75,9 milhões de pessoas viviam em situação de deslocamento interno. Deste total, 7,7 milhões foram deslocadas devido a desastres naturais. Durante o ano de 2023, foram registrados 46,9 milhões de novos deslocamentos (movimentos) em 151 países e territórios, sendo que desastres foram responsáveis por 26,4 milhões desses deslocamentos, o que representa 56% do total. Inundações e tempestades continuam sendo as principais causas de deslocamento por desastres. Países de alta renda, como Canadá e Nova Zelândia, registraram seus maiores números de deslocados por desastres em 2023. Dados mais recentes, do final de 2024, apontam para um aumento ainda maior, com 83,4 milhões de pessoas vivendo em deslocamento interno, um acréscimo de 7,5 milhões em relação a 2023. Só em 2024, foram 45,8 milhões de novos deslocamentos por desastres, quase o dobro da média anual da última década, com 9,8 milhões permanecendo deslocados ao final do ano.

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) destaca que, desde 2010, emergências climáticas forçaram uma média de 21,5 milhões de pessoas a se deslocarem anualmente. Em 2022, desastres causaram 32,6 milhões de deslocamentos internos, com 98% deles resultantes de perigos relacionados ao clima, como inundações, tempestades, incêndios florestais e secas. Esses números representam um aumento de 41% em comparação com os níveis de 2008.

A Interseção entre Mudanças Climáticas, Conflitos e Deslocamento

As mudanças climáticas são um fator crucial na intensificação dos desastres naturais e, consequentemente, no aumento do deslocamento humano. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou que 2023 foi o ano mais quente já registrado, com a temperatura média global da superfície atingindo 1,45°C acima da linha de base pré-industrial. Relatórios mais recentes indicam que 2024 também bateu recordes de temperatura, aproximando-se perigosamente do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. Esse aquecimento contribui para eventos climáticos mais frequentes e intensos.

O ACNUR alerta que a crise climática amplia o deslocamento e torna a vida mais difícil para aqueles que já foram forçados a se mover. Muitas pessoas deslocadas por conflitos e violência vivem em países altamente vulneráveis aos impactos climáticos. Estima-se que três quartos dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo residam em nações severamente afetadas pelas mudanças climáticas. Essa sobreposição de crises – conflito e riscos climáticos – agrava a vulnerabilidade de milhões em locais como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão e Síria. As mudanças climáticas atuam como um "multiplicador de ameaças", exacerbando pobreza, perda de meios de subsistência e tensões por recursos escassos, o que pode levar a mais violência e deslocamentos.

Impactos Socioeconômicos do Deslocamento por Desastres

O deslocamento causado por desastres naturais acarreta profundas consequências socioeconômicas. Pessoas deslocadas frequentemente perdem suas casas, bens e meios de subsistência, enfrentando dificuldades para reconstruir suas vidas. A pesquisa Household Pulse Survey do U.S. Census Bureau revelou que, nos Estados Unidos, uma média de 3,1 milhões de pessoas foram deslocadas por desastres naturais ao longo de um ano. Furacões foram a causa mais comum, seguidos por inundações, incêndios e tornados. Aproximadamente um terço dos sobreviventes de desastres ficaram deslocados por mais de um mês, com muitos sofrendo danos moderados ou graves em suas propriedades. Famílias de baixa renda e inquilinos são desproporcionalmente afetadas, enfrentando maiores dificuldades de recuperação.

No Brasil, desastres ambientais também têm elevado o número de deslocados internos. Em 2023, o país registrou 745 mil deslocamentos internos por desastres, o maior número já contabilizado e mais de um terço dos deslocamentos por desastres na região das Américas. Eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 demonstram a gravidade da situação e a necessidade urgente de políticas públicas eficazes. A falta de infraestrutura adequada e a vulnerabilidade socioeconômica em muitas áreas, especialmente em favelas e comunidades rurais, agravam o impacto dos desastres.

A Necessidade de Ação e Soluções Duradouras

Diante desse cenário alarmante, é crucial a implementação de medidas para mitigar os riscos de desastres e proteger as populações vulneráveis. Isso inclui investir em sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e planejamento urbano que considere os riscos climáticos. O Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR) enfatiza a importância de estratégias de redução de risco de desastres para prevenir o deslocamento e fortalecer a resiliência das comunidades. O ACNUR também lançou um fundo para apoiar refugiados e deslocados afetados pelas mudanças climáticas, visando construir resiliência e aumentar a disponibilidade de recursos sustentáveis.

É fundamental que governos, organizações internacionais e a sociedade civil trabalhem em conjunto para enfrentar essa crise multifacetada. Abordar as causas profundas do deslocamento, incluindo as mudanças climáticas e a pobreza, é essencial para encontrar soluções duradouras e garantir um futuro mais seguro e resiliente para todos.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

Ver todos os posts

Compartilhar: