Como Fazer uma Procuração para Outra Pessoa te Representar: Guia Completo

Por Mizael Xavier
Como Fazer uma Procuração para Outra Pessoa te Representar: Guia Completo

Desvendando a Procuração: Seu Guia para Representação Legal no Brasil

Em diversas situações da vida, seja por impossibilidade física, distância geográfica ou simples conveniência, necessitamos que outra pessoa atue em nosso nome para resolver questões legais, financeiras ou administrativas. É nesse contexto que a procuração se revela uma ferramenta jurídica fundamental. Este artigo visa desmistificar o processo de como fazer uma procuração para outra pessoa te representar, detalhando os passos, tipos e requisitos legais no Brasil, garantindo que você possa delegar poderes com segurança e eficácia.

A procuração é o instrumento legal pelo qual uma pessoa (o outorgante) concede a outra (o outorgado ou procurador) poderes para agir em seu nome. Segundo o Código Civil Brasileiro, em seus artigos 653 a 692, opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. Basicamente, qualquer ato lícito pode ser objeto de uma procuração, com exceções como testamento, depoimento pessoal e adoção.

Entendendo os Tipos de Procuração: Pública vs. Particular

No Brasil, existem fundamentalmente dois tipos de procuração, e a escolha entre elas dependerá da finalidade e da exigência legal para o ato que o procurador irá realizar.

Procuração Pública: A Formalidade que Garante Segurança

A procuração pública é elaborada por um tabelião de notas, em livro próprio do cartório. A via original fica arquivada no tabelionato, e uma cópia autêntica (o traslado) é entregue ao outorgante. Este tipo de procuração é exigido para atos mais complexos e solenes, que envolvem maior segurança jurídica. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE) exemplificam que a procuração pública é necessária para situações como venda e doação de bens imóveis, representação em casamento, escrituras de divórcio e inventário, hipoteca e, na maioria dos casos, transferência de bens e direitos. Pessoas entre 16 e 18 anos incompletos, analfabetos ou aqueles que não podem assinar também devem, obrigatoriamente, utilizar a procuração pública.

Procuração Particular: Simplicidade para Atos Menos Formais

A procuração particular é redigida pelo próprio outorgante, sem a necessidade inicial de intervenção de um cartório para sua elaboração. Ela pode ser utilizada para atos em que a lei não exige a forma pública. Embora mais simples, é comum que, para maior segurança, a assinatura do outorgante na procuração particular seja reconhecida em cartório. O Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil (IRTDPJ Brasil) destaca que o reconhecimento de firma confere maior autenticidade ao documento. O Ministério das Relações Exteriores também informa que o terceiro com quem o mandatário tratar poderá exigir que a procuração particular tenha a firma reconhecida. Em alguns contextos, como para advogados atuarem em processos, a legislação, como o Código de Processo Civil e provimentos específicos, pode dispensar o reconhecimento de firma, conforme aponta o Sindicato dos Notários e Registradores do Estado do Espírito Santo (Sinoreg-ES).

Elementos Essenciais de uma Procuração: O que Não Pode Faltar

Independentemente do tipo, alguns elementos são cruciais para a validade e clareza de uma procuração. Conforme detalhado em diversas fontes, incluindo o portal Mundo Educação (UOL) e o site Projuris, uma procuração deve conter:

  • Identificação completa do outorgante e do outorgado: Nome completo, nacionalidade, estado civil, profissão, número do RG e do CPF (ou CNPJ, no caso de pessoa jurídica) e endereço completo de ambas as partes. A correta identificação é vital para evitar invalidação.
  • Descrição clara dos poderes concedidos: É fundamental especificar quais atos o procurador está autorizado a praticar. Os poderes podem ser gerais, para administrar interesses, ou especiais e expressos, para atos específicos como alienar bens, conforme o artigo 661 do Código Civil.
  • Objetivo da outorga: A finalidade para a qual a procuração está sendo concedida deve ser explícita.
  • Local e data da emissão: Indicar onde e quando a procuração foi feita.
  • Assinatura do outorgante: Essencial para a validade do documento. Em casos de analfabetismo ou impossibilidade de assinar, a procuração deverá ser pública.
  • Prazo de validade (opcional, mas recomendado): Embora muitas procurações tenham validade indeterminada até sua revogação, é possível estipular um prazo. Alguns órgãos, como bancos e o INSS, podem exigir procurações recentes ou com prazo de validade específico. Para casamentos, por exemplo, o prazo legal é de 90 dias.

Passo a Passo: Como Fazer uma Procuração

O processo para fazer uma procuração varia ligeiramente dependendo se ela é pública ou particular.

Como Fazer uma Procuração Pública

  1. Reúna os documentos necessários:
    • Outorgante (Pessoa Física): Documento de identidade original com foto (RG, CNH), CPF e certidão de casamento (se aplicável).
    • Outorgante (Pessoa Jurídica): Contrato social e suas alterações, ata de nomeação da diretoria, CNPJ, RG e CPF do representante legal da empresa.
    • Dados do Outorgado: Nome completo, RG, CPF, estado civil, profissão e endereço. Recomenda-se ter cópias dos documentos do procurador para conferência, embora sua presença não seja obrigatória no momento da lavratura.
    • Para fins específicos: Se a procuração envolver imóveis, apresentar a matrícula atualizada. Para veículos, o documento de propriedade.
  2. Dirija-se a um Tabelionato de Notas: O outorgante deve comparecer ao cartório de sua preferência. O tabelião ouvirá a vontade do outorgante, redigirá o texto da procuração em linguagem jurídica e o registrará em livro próprio.
  3. Videoconferência (Opção Online): Alguns cartórios, como o 4º Tabelionato de Notas de Curitiba e o 26º Tabelionato de Notas de São Paulo, já oferecem a opção de fazer procuração pública online por meio de videoconferência e assinatura digital, utilizando um certificado digital emitido no padrão da ICP-Brasil, através da plataforma e-Notariado.
  4. Custos: Os valores da procuração pública variam conforme a tabela de emolumentos de cada estado.

Como Fazer uma Procuração Particular

  1. Redija o documento: O próprio outorgante pode elaborar o texto da procuração, atentando-se para incluir todos os elementos essenciais mencionados anteriormente. Existem diversos modelos disponíveis, inclusive fornecidos por órgãos como o Ministério das Relações Exteriores ou o INSS.
  2. Qualificação das partes: Inclua os dados completos do outorgante e do outorgado.
  3. Definição dos poderes: Detalhe os poderes que estão sendo concedidos.
  4. Local, data e assinatura: Insira o local e a data de emissão e, fundamentalmente, a assinatura do outorgante.
  5. Reconhecimento de firma (recomendado): Para maior segurança e aceitação, leve a procuração particular a um cartório para que a assinatura do outorgante seja reconhecida. Este procedimento verifica a autenticidade da assinatura.
  6. Registro (opcional): Conforme o Ministério das Relações Exteriores, a procuração particular pode, se necessário, ser registrada em Cartório de Registro de Títulos e Documentos para maior validade contra terceiros.

Como Fazer uma Procuração para Alguém no Exterior

Brasileiros que residem no exterior podem precisar nomear procuradores no Brasil. Isso pode ser feito de duas maneiras principais:

  1. Em Repartição Consular Brasileira: Consulados brasileiros podem emitir procurações públicas. O outorgante deve comparecer pessoalmente ao consulado com a documentação exigida. Para procurações particulares, o consulado pode realizar o reconhecimento de firma do outorgante brasileiro. Estrangeiros sem Registro Nacional Migratório (RNM) válido geralmente precisam fazer o documento perante notário público local, legalizá-lo (apostilamento, se o país for signatário da Convenção da Apostila da Haia) e depois traduzi-lo no Brasil por tradutor juramentado.
  2. Procuração Pública Online (via e-Notariado): Como mencionado, a plataforma e-Notariado permite que brasileiros, mesmo no exterior, solicitem a lavratura de procurações públicas a distância, por videoconferência com um tabelionato de notas no Brasil, desde que possuam certificado digital.

Substabelecimento, Revogação e Validade da Procuração

Substabelecimento: Transferindo os Poderes

O substabelecimento ocorre quando o procurador (outorgado) transfere os poderes recebidos para uma terceira pessoa. Isso só é possível se não houver vedação expressa na procuração original. O substabelecimento pode ser total ou parcial, com ou sem reserva de poderes para o procurador original. A forma do substabelecimento geralmente segue a forma exigida para o ato principal. Ou seja, se a procuração original foi pública para um ato que exige essa forma, o substabelecimento também deverá ser público. No entanto, o Código Civil (Art. 655) permite que, mesmo uma procuração outorgada por instrumento público, possa ser substabelecida por instrumento particular, conforme esclarece o Ministério das Relações Exteriores.

Revogação: Cancelando os Poderes

A procuração é um ato baseado na confiança e, portanto, pode ser revogada a qualquer tempo pelo outorgante, tornando-a sem efeito. Para revogar uma procuração pública, o outorgante deve, preferencialmente, procurar o mesmo cartório onde ela foi feita ou outro tabelionato de notas para lavrar uma escritura pública de revogação. É crucial notificar o procurador sobre a revogação para que ela tenha plenos efeitos jurídicos. Se o outorgado não puder ser encontrado ou se recusar a tomar ciência, a notificação pode ser feita judicialmente ou por meio de registro em Cartório de Títulos e Documentos.

Renúncia: Quando o Procurador Desiste dos Poderes

O procurador também pode renunciar aos poderes recebidos. Nesse caso, ele deve comunicar formalmente sua renúncia ao outorgante. Enquanto o outorgante não for notificado, a renúncia não produzirá efeitos perante ele.

Prazo de Validade: Até Quando Vale a Procuração?

Como regra geral, a procuração pública não possui um prazo de validade fixo determinado por lei, permanecendo válida até que seja revogada, ou ocorra um evento que a torne ineficaz, como a morte do outorgante ou a conclusão do ato para o qual foi concedida. No entanto, é comum e recomendável que o outorgante estipule um prazo de validade no próprio documento, especialmente para evitar problemas futuros. O 2º Tabelionato de Notas de São Paulo e o 26º Tabelionato de Notas de São Paulo ressaltam que certas instituições, como bancos e o INSS, podem ter políticas internas que exigem procurações recentes ou com prazo de validade específico, usualmente de 6 meses a 1 ano. Para atos específicos, como casamento, a lei estabelece um prazo de 90 dias. No caso de procurações para divórcio, o prazo mencionado é de 30 dias.

Cuidados Essenciais ao Fazer uma Procuração

Delegar poderes a outra pessoa é um ato de grande responsabilidade. Por isso, alguns cuidados são imprescindíveis:

  • Escolha do procurador: Nomeie alguém de sua absoluta confiança.
  • Clareza dos poderes: Especifique de forma inequívoca os poderes concedidos, evitando termos genéricos que possam dar margem a interpretações amplas e indesejadas.
  • Prazos: Considere estabelecer um prazo de validade, se apropriado para a finalidade.
  • Aconselhamento profissional: Em casos complexos ou que envolvam valores significativos, buscar orientação de um advogado ou do próprio tabelião é altamente recomendável.
  • Guarda do documento: Mantenha o traslado da procuração pública ou o original da particular em local seguro. Em caso de perda da procuração pública, uma segunda via (certidão) pode ser solicitada no cartório.

Ao compreender os mecanismos, requisitos e implicações de uma procuração, você estará mais preparado para utilizar este importante instrumento jurídico com segurança e confiança, garantindo que seus interesses sejam devidamente representados quando necessário.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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