Cigarras Zumbis da Ninhada XIV: Um Fenômeno Aterrorizante e Fascinante da Natureza
A Ninhada XIV e o Macabro Espetáculo das Cigarras Zumbis
Nesta primavera [Maio de 2025], bilhões de cigarras periódicas da chamada Ninhada XIV (Brood XIV) emergirão do subsolo em diversas regiões dos Estados Unidos após 17 anos. Este evento, por si só um espetáculo da natureza, traz consigo um elemento ainda mais intrigante e perturbador: a presença de um fungo parasita capaz de transformar esses insetos em verdadeiras "cigarras zumbis".
A Scientific American destaca este fenômeno, que, embora pareça roteiro de filme de terror, é uma realidade científica estudada por entomologistas e micologistas. As cigarras da Ninhada XIV são a segunda maior ninhada periódica, superada apenas pela Ninhada XIX. A última vez que a Ninhada XIV emergiu foi em 2008, e sua próxima aparição conjunta com a Ninhada XIX está prevista para 2076.
O Fungo Parasita Massospora cicadina: Manipulação e Dispersão
O responsável por essa transformação macabra é o fungo Massospora cicadina. Este parasita infecta as cigarras, provavelmente quando as ninfas ainda estão no solo ou durante sua emergência. Uma vez infectada, a cigarra passa por uma série de transformações bizarras. Os esporos do fungo consomem os genitais e o abdômen do inseto, substituindo-os por uma massa de esporos fúngicos. O resultado é descrito como uma "exibição perturbadora de proporções de um filme de terror".
Apesar da destruição de seus órgãos reprodutivos e parte do corpo, as cigarras infectadas não morrem imediatamente. Pelo contrário, o fungo manipula o comportamento do hospedeiro de forma a maximizar sua própria dispersão. As cigarras zumbis tornam-se hipersexuais, tentando acasalar freneticamente com qualquer outra cigarra que encontrem, seja macho ou fêmea. Durante essas tentativas de cópula, os esporos do fungo são liberados, infectando novos indivíduos. Esse comportamento errático e a forma como os esporos são disseminados renderam às cigarras infectadas o apelido de "saleiros voadores da morte".
Compostos Psicoativos e o Comportamento Anormal
Pesquisas revelaram que o Massospora cicadina produz substâncias químicas que alteram drasticamente o comportamento das cigarras. Entre esses compostos está a catinona, uma anfetamina natural que induz um estado de hiperatividade e comportamento sexual compulsivo. Surpreendentemente, algumas espécies de Massospora também produzem psilocibina, a mesma substância psicoativa encontrada em cogumelos alucinógenos. Acredita-se que esses compostos suprimam o apetite, aumentem a resistência e prolonguem os períodos de vigília das cigarras, transformando-as em máquinas de dispersão de fungos.
O Ciclo de Vida das Cigarras Periódicas e a Ação do Massospora
As cigarras periódicas, como as da Ninhada XIV, possuem um ciclo de vida longo e sincronizado, passando 13 ou 17 anos no subsolo como ninfas, alimentando-se da seiva de raízes de árvores. Ao emergirem, os adultos têm apenas algumas semanas para acasalar e depositar seus ovos, garantindo a próxima geração. O fungo Massospora explora esse ciclo de vida. Os esporos podem permanecer dormentes no solo entre as emergências das cigarras. Quando as ninfas emergem, podem entrar em contato com esses esporos. As cigarras infectadas, ao voarem e tentarem acasalar, liberam novos esporos que contaminarão o solo, aguardando a próxima geração de ninfas.
Impacto Ecológico e Riscos
Apesar da natureza chocante da infecção, os pesquisadores acreditam que o fungo Massospora não representa um risco sério para a população geral de cigarras a longo prazo. As cigarras infectadas representam geralmente uma pequena porcentagem do total da ninhada. Além disso, é importante ressaltar que as cigarras zumbis, apesar de sua aparência e comportamento alterado, não são perigosas para seres humanos ou animais de estimação. O fungo é altamente especializado em infectar cigarras. Cientistas alertam contra qualquer tentativa de ingerir cigarras infectadas na esperança de obter efeitos psicoativos, pois os insetos contêm inúmeros outros compostos que podem ser tóxicos.
A emergência da Ninhada XIV e o fenômeno das cigarras zumbis oferecem uma oportunidade única para cientistas como Matt Kasson, da Universidade da Virgínia Ocidental, e John Cooley, da Universidade de Connecticut, estudarem a interação entre o fungo e seus hospedeiros, bem como as complexas substâncias químicas envolvidas. Este evento serve como um lembrete da incrível – e por vezes perturbadora – diversidade e complexidade do mundo natural.
