Captação de Recursos para Startups 101: Equity, Valuation e Notas Conversíveis Desmistificados

Introdução à Captação de Recursos para Startups

A jornada de uma startup é repleta de desafios e um dos mais significativos é a captação de recursos (fundraising). Muitos empreendedores, especialmente aqueles com background não técnico, podem se sentir intimidados pela complexidade dos termos e processos envolvidos. Este artigo visa desmistificar os conceitos fundamentais de equity (participação societária), convertible notes (notas conversíveis), rodadas de investimento e o crucial processo de valuation (avaliação da empresa), capacitando fundadores a tomar decisões mais informadas para seus negócios, especialmente no contexto de startups que podem estar desenvolvendo soluções web ou digitais.

É importante ressaltar, como Christian Peverelli menciona, que a captação de recursos via investidores não é o único caminho nem é adequada para todas as startups. Existem diversas alternativas de financiamento. No entanto, compreender os mecanismos de investimento é crucial para qualquer fundador que aspire construir uma empresa escalável.

Entendendo o que é Equity (Participação Societária)

Equity, ou participação societária, representa a propriedade em uma empresa. Pode ser entendida como ações (shares) ou cotas da companhia. Ao possuir equity, você se torna um dos donos do negócio.

Tipos de Ações e Direitos dos Acionistas

Existem diferentes tipos de ações, mas para startups em estágio inicial, geralmente falamos de ações ordinárias (common stock). Ser detentor de ações confere principalmente dois tipos de direitos:

1. Direitos de Propriedade: Participação nos lucros (ou prejuízos) da empresa. Se a empresa gerar lucro, os acionistas podem ter direito a uma parcela desses lucros, distribuída na forma de dividendos, proporcionalmente à sua participação.
2. Direitos de Voto: Poder de decisão em assembleias sobre questões importantes da empresa, como a eleição do conselho de administração (board of directors) ou a reinvestir lucros. A quantidade de votos geralmente é proporcional ao número de ações possuídas.

Como Funciona o Fundraising (Captação de Recursos)?

Quando uma startup busca investimento externo, ela geralmente o faz vendendo uma parte de sua equity para investidores. Esse processo envolve alguns conceitos importantes:

• Emissão de Novas Ações: Para captar recursos, a empresa cria e vende novas ações. Se uma empresa possui 100 ações e decide emitir mais 20 para um investidor, ela passará a ter 120 ações no total.
• Diluição: Com a emissão de novas ações, a porcentagem de participação dos fundadores e investidores anteriores diminui, embora o valor absoluto de suas participações possa aumentar se a empresa crescer. No exemplo acima, quem detinha 10 ações (10% de 100) passará a ter 10 ações de um total de 120 (aproximadamente 8.33%).
• Aumento do Valor da Empresa: O dinheiro investido entra no caixa da empresa, aumentando seu valor total. A ideia é que esse capital seja usado para acelerar o crescimento, tornando a empresa mais valiosa no futuro.

É um mito comum achar que se está vendendo uma parte 'física' da empresa. Na realidade, está-se criando novas participações em troca de capital para expandir o 'bolo' total.

Noções Básicas de Valuation (Avaliação da Empresa) para Startups

O valuation, ou avaliação da empresa, é o processo de determinar o valor econômico de um negócio. Para startups, especialmente as de tecnologia em estágio inicial, o valuation é mais uma arte do que uma ciência exata, pois muitas vezes não há receita significativa ou histórico financeiro robusto.

Diferenças no Valuation de Startups

Métodos tradicionais de valuation, como:

• Fluxo de Caixa Descontado (DCF - Discounted Cash Flow): Projeta os fluxos de caixa futuros da empresa e os desconta ao valor presente. Difícil de aplicar em startups com pouca previsibilidade.
• Múltiplos de EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization): Compara a empresa com outras semelhantes com base em um múltiplo de seu EBITDA. Inviável para startups sem lucro ou receita expressiva.

Esses métodos são menos eficazes para startups. Em vez disso, o valuation de startups é fortemente baseado no potencial de crescimento futuro. Investidores apostam na capacidade da equipe, na inovação do produto, no tamanho do mercado e na escalabilidade do modelo de negócio.

Valuation Pré-Money e Pós-Money

Dois termos cruciais em qualquer rodada de investimento são:

• Valuation Pré-Money (Pre-Money Valuation): O valor acordado da empresa antes do investimento ser injetado.
• Valuation Pós-Money (Post-Money Valuation): O valor da empresa após o investimento. É calculado somando o valuation pré-money ao montante do investimento. (Ex: Pré-money de R$4 milhões + Investimento de R$1 milhão = Pós-money de R$5 milhões). O investidor que aportou R$1 milhão teria, nesse caso, 20% da empresa (R$1M/R$5M).

O que são Notas Conversíveis e Acordos SAFE?

Dado o desafio de definir um valuation preciso para startups em estágios muito iniciais, surgiram instrumentos financeiros como as Notas Conversíveis (Convertible Notes) e os Acordos SAFE (Simple Agreement for Future Equity). O Y Combinator, uma das mais renomadas aceleradoras do mundo, popularizou o uso do SAFE.

Características Principais

• Adiamento da Definição do Valuation: Permitem que o investimento ocorra sem a necessidade de definir um valuation exato naquele momento. O investimento 'converte' em equity em uma rodada de financiamento futura (geralmente a Série A), quando um valuation é estabelecido por investidores mais experientes (priced round).
• Desconto e/ou Teto de Valuation (Valuation Cap): Para compensar o risco maior de investir cedo, os detentores de notas conversíveis ou SAFEs geralmente recebem suas ações a um preço com desconto em relação aos investidores da rodada futura, ou o valuation máximo ao qual suas notas converterão é pré-definido (valuation cap), o que for mais benéfico para eles.
• Velocidade e Custo: São geralmente mais rápidos e menos custosos de implementar do que uma rodada de equity precificada, pois envolvem menos diligência e negociação complexa.

Esses instrumentos são muito comuns em rodadas Anjo e Pré-Seed, facilitando o fluxo de capital para empresas nascentes.

Conclusão: Navegando no Mundo da Captação de Recursos

Compreender os fundamentos da captação de recursos, equity, valuation e os diferentes instrumentos financeiros é vital para fundadores de startups. Embora o processo possa parecer complexo, o conhecimento básico permite que você converse de forma mais eficaz com investidores, entenda as implicações de cada decisão e escolha o caminho de financiamento que melhor se alinha com a visão e os objetivos da sua empresa. Lembre-se, como enfatizado, 100% de zero ainda é zero; às vezes, ceder uma parte da sua empresa é necessário para construir algo muito maior e mais valioso. Cada perfil de investidor é diferente, e explicar esses conceitos, especialmente para aqueles menos familiarizados com o ecossistema de startups de tecnologia, pode poupar muito tempo e evitar desalinhamentos. Para aqueles que estão começando, programas como o 'The No-Code Startup' do We Are No Code podem oferecer um excelente ponto de partida para construir e financiar seus projetos digitais.