Bactérias Intestinais Específicas Ligadas a Maior Risco de AVC Através da Produção de TMAO

Por Mizael Xavier

Descoberta da Cleveland Clinic: A Ligação Entre Bactérias Intestinais e o Risco de AVC

Pesquisadores da Cleveland Clinic identificaram recentemente uma ligação significativa entre tipos específicos de bactérias intestinais e um risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC). O estudo, publicado na revista Nature Medicine, revela que estas bactérias contribuem para um maior risco de AVC ao produzirem uma substância chamada N-óxido de trimetilamina (TMAO) durante a digestão. Este processo ocorre quando as bactérias metabolizam a colina, um nutriente encontrado em abundância em alimentos como carne vermelha, ovos e laticínios.

A pesquisa indica que níveis elevados de TMAO no sangue podem prever um risco aumentado de AVC, mesmo em indivíduos que, de outra forma, parecem saudáveis. A TMAO é formada quando as bactérias intestinais decompõem a colina e a carnitina, presentes nesses alimentos, em trimetilamina (TMA). Posteriormente, o fígado converte a TMA em TMAO através da enzima flavina contendo monooxigenase 3 (FMO3).

O Papel da TMAO no Risco de AVC

Estudos anteriores liderados pelo Dr. Stanley Hazen, da Cleveland Clinic, já haviam demonstrado que a TMAO contribui diretamente para o estreitamento das paredes arteriais devido ao acúmulo de placas, um processo conhecido como aterosclerose. Esta condição é um fator de risco conhecido para doenças cardiovasculares, incluindo AVC e ataques cardíacos. A nova pesquisa reforça esta ligação, mostrando que as bactérias intestinais, e especificamente a produção de TMAO, podem impactar diretamente a gravidade do AVC e a deficiência funcional pós-AVC.

Os investigadores descobriram que o transplante de micróbios intestinais capazes de produzir TMAO foi suficiente para causar uma alteração profunda na gravidade do AVC em modelos pré-clínicos. Além disso, dietas ricas em colina e a própria TMAO levaram a um maior tamanho e gravidade do AVC, bem como a piores resultados funcionais.

Implicações para a Prevenção e Tratamento do AVC

Estas descobertas abrem novos caminhos para potenciais intervenções destinadas a tratar ou prevenir o AVC. Uma vez que os níveis de TMAO são modificáveis, estratégias dietéticas e probióticas, juntamente com abordagens personalizadas baseadas no microbioma e no perfil genético, poderão oferecer ferramentas poderosas para mitigar os riscos de saúde associados à TMAO. A monitorização dos níveis de TMAO também pode melhorar a deteção precoce de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.

A pesquisa sugere que a alteração da microbiota intestinal para reduzir a produção de TMAO pode ser uma estratégia terapêutica promissora. De facto, os investigadores desenvolveram uma nova classe de fármacos, conhecidos como inibidores baseados em mecanismos, que interrompem potentemente a via microbiana intestinal que produz TMAO, sem matar as bactérias benéficas. Esta abordagem demonstrou reduzir a hiperreatividade plaquetária e o potencial de trombose em modelos animais, com risco mínimo de hemorragia.

A ligação entre a dieta, o microbioma intestinal e o risco de AVC é uma área de investigação em expansão. Dietas ricas em fibras, como a dieta mediterrânica, que inclui alimentos como vinho tinto e azeite extra virgem, podem ser benéficas para promover um microbioma intestinal saudável e reduzir os níveis de TMAO. Por outro lado, o consumo crónico de carne vermelha tem demonstrado aumentar significativamente os níveis circulantes de TMAO e a sua produção pelos micróbios intestinais. É interessante notar que vegetarianos e veganos tendem a ter níveis muito baixos de bactérias produtoras de TMAO e, consequentemente, capacidade mínima ou nenhuma de converter carnitina em TMAO.

Estudos futuros continuarão a explorar como a modulação do microbioma intestinal e dos níveis de TMAO pode ser utilizada para prevenir e tratar o AVC e outras doenças cardiovasculares.

Mizael Xavier

Mizael Xavier

Desenvolvedor e escritor técnico

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