Avaliação Diagnóstica Abrangente do Autismo: Um Guia para Profissionais Médicos no Suporte às Famílias
Compreendendo a Avaliação Diagnóstica Abrangente do Autismo (CDE)
A Avaliação Diagnóstica Abrangente do Autismo (CDE) é um passo fundamental para identificar com precisão o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este tipo de avaliação é frequentemente exigido pelo Medicaid e pela maioria dos outros seguros para qualificar o indivíduo para terapias específicas, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), ou para acessar serviços de apoio à deficiência. Embora os pediatras realizem rotineiramente rastreios de autismo em consultas de bem-estar aos 18 e 30 meses, muitas vezes há um atraso no encaminhamento de uma criança com resultado positivo para uma avaliação diagnóstica completa, o que impacta a intervenção precoce.
Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial nesse processo, não apenas na condução das avaliações, mas também em orientar as famílias através do que pode ser uma experiência avassaladora, marcada por listas de espera e desinformação. Uma comunicação transparente, sensibilidade às preocupações dos pais e explicações claras dos procedimentos ajudam a aumentar a confiança e reduzir a ansiedade tanto para o paciente quanto para o profissional.
O que envolve uma Avaliação Diagnóstica Abrangente do Autismo?
Diferentemente de um breve rastreio, uma CDE envolve múltiplas ferramentas diagnósticas para avaliar o histórico de desenvolvimento do indivíduo, funcionamento cognitivo e perfil comportamental. É essencial ter uma visão integral da criança para diagnosticar com precisão o TEA e identificar quaisquer condições coexistentes, como TDAH, ansiedade ou deficiência intelectual. O processo de avaliação geralmente inclui a coleta de dados antes da consulta presencial, que pode durar aproximadamente de 2 a 4 horas.
Os profissionais de saúde devem procurar enquadrar a avaliação como uma oportunidade de crescimento e apoio, assegurando aos pais que um diagnóstico não define seu filho, mas abre portas e recursos para apoiar a criança e promover seu pleno potencial. É importante reconhecer as preocupações dos pais em relação ao estigma do autismo e lembrá-los de que eles estão no comando da avaliação e do diagnóstico.
Componentes Chave da Avaliação Diagnóstica Abrangente
Uma avaliação diagnóstica abrangente do autismo é um processo meticuloso e completo conduzido por profissionais para determinar a presença do Transtorno do Espectro Autista. O objetivo é reunir informações abrangentes, incluindo o histórico de desenvolvimento do indivíduo e padrões comportamentais. Os principais componentes incluem:
Histórico Desenvolvimental e Médico
Entrevistas detalhadas com pais ou cuidadores sobre os marcos iniciais do desenvolvimento, histórico médico, histórico familiar de condições de saúde mental e quaisquer preocupações observadas em casa ou na escola são cruciais. Frequentemente, as crianças se comportam de maneira diferente em ambientes escolares versus domésticos, portanto, uma entrevista com o professor pode ser justificada. Quaisquer avaliações anteriores que a criança tenha concluído (Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Testes Genéticos, Testes Neurológicos, Testes Psicológicos, etc.) também são revisadas para entender o quadro mais amplo dos comportamentos e histórico médico da criança ao longo de sua vida. Informações sobre o funcionamento familiar, forças, rotinas e recursos também são consideradas.
Observações Comportamentais e Interações
A avaliação envolve observar e avaliar o comportamento e as interações do indivíduo. Os profissionais observam diretamente as habilidades de comunicação social, padrões de comportamento e interesses da criança. A observação comportamental em múltiplos contextos é preferível (por exemplo, clínica, casa ou creche), embora a maioria das avaliações ocorra em ambientes clínicos.
Testes Padronizados
Existem diversas ferramentas de diagnóstico para o TEA, que se enquadram em duas categorias amplas: aquelas baseadas na codificação de observações e interações diretas com a criança (por exemplo, ADOS-2, CARS-2) e aquelas baseadas em entrevistas com pais ou cuidadores (por exemplo, ADI-R) ou questionários (por exemplo, SRS-2). Os resultados de uma ferramenta de avaliação diagnóstica do TEA não podem ser usados isoladamente para diagnosticar o TEA; em vez disso, os resultados devem complementar o processo diagnóstico e informar o julgamento clínico.
A Escala de Observação para o Diagnóstico de Autismo, Segunda Edição (ADOS-2) é considerada o instrumento padrão-ouro para avaliar o autismo e é a mais solicitada por seguradoras e entidades governamentais. O ADOS-2 é uma avaliação padronizada e semiestruturada da comunicação, interação social e brincadeira ou uso criativo de materiais para pessoas suspeitas de terem TEA. A escala está estruturada em cinco módulos, cada um específico para uma determinada idade e nível de linguagem, podendo ser aplicada a partir dos 12 meses de idade.
A Entrevista Diagnóstica para Autismo Revisada (ADI-R) é outra ferramenta importante. É uma entrevista estruturada com 93 questões que permite aos profissionais analisar, através dos pais ou cuidadores, a sintomatologia relacionada aos transtornos do espectro autista. A ADI-R complementa o ADOS-2, focando no histórico de desenvolvimento da criança. Pode ser aplicada a partir de 18 meses de idade equivalente ou 2 anos de idade cronológica.
Ferramentas como as Escalas de Comportamento Adaptativo Vineland-3 (Vineland-3) e a Escala de Responsividade Social, Segunda Edição (SRS-2) são usadas em conjunto com o ADOS-2 para identificar quão bem o indivíduo é capaz de se adaptar aos seus ambientes sociais e avaliar seu funcionamento cognitivo e executivo. Outras ferramentas que podem ser utilizadas incluem a Escala de Avaliação de Autismo Infantil (CARS-2), o Inventário de Comportamentos Autísticos (ICA) e o Questionário de Triagem para Autismo (ASQ).
Avaliações Cognitivas e de Linguagem
Estas avaliações verificam as habilidades cognitivas, o funcionamento intelectual e as habilidades de linguagem. Uma avaliação de fala e linguagem pode ser necessária para melhorar as habilidades de comunicação verbal, não verbal e social. Fonoaudiólogos podem oferecer recursos de comunicação alternativa e aumentativa.
Avaliações Sensoriais
Avaliam sensibilidades sensoriais e dificuldades de processamento, como respostas a estímulos. As alterações sensoriais são comuns e geralmente afetam crianças com TEA. Terapia de integração sensorial pode ser recomendada.
Avaliação Abrangente para Planejamento de Intervenção
Compreender os níveis gerais de funcionamento em vários domínios, incluindo forças, habilidades, desafios e necessidades, ajuda no desenvolvimento de um planejamento de tratamento e manejo eficaz e individualizado. Tais planos também devem considerar as preocupações, prioridades e recursos individuais e familiares.
A Importância do Diagnóstico Precoce
O diagnóstico precoce do TEA é crucial. Permite que os pais tomem medidas para ajudar no desenvolvimento da criança, em vez de apenas se preocuparem com os sintomas. Quanto mais cedo forem introduzidas novas práticas e rotinas terapêuticas capazes de estimular o cérebro, mais os neurônios podem ser treinados para superar as limitações decorrentes do Transtorno. A identificação precoce possibilita uma reabilitação intensiva e multidisciplinar capaz de beneficiar o funcionamento cognitivo e adaptativo do indivíduo. Além disso, ajuda a minimizar comorbidades associadas, como transtornos de ansiedade e dificuldades de aprendizagem.
A fase em que o cérebro se desenvolve mais rapidamente vai desde a concepção até os três anos de idade; assim, qualquer programa de estimulação do desenvolvimento da criança deve ser realizado nesta fase. A intervenção precoce tende a ser mais eficaz, reduzindo as chances de surgimento de problemas adicionais.
O Papel dos Profissionais de Saúde e o Suporte às Famílias
O papel dos profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos e terapeutas, é multifacetado. Desde as consultas de puericultura, o enfermeiro pode ser o primeiro a identificar características relacionadas ao TEA. Os profissionais de saúde devem estar cada vez mais preparados para identificar sinais, diagnosticar e intervir precocemente. É fundamental que os pais compartilhem suas preocupações com os profissionais de saúde, permitindo um direcionamento adequado.
Após o diagnóstico, o apoio à família é essencial. O diagnóstico precoce do autismo pode, inicialmente, trazer incertezas e inseguranças para a família. É essencial acolher esses sentimentos e buscar apoio para fortalecer a família durante essa nova jornada. Profissionais de saúde devem perguntar regularmente aos pais de crianças com TEA sobre seus próprios cuidados e necessidades de saúde física e mental, fornecendo cuidados e encaminhamentos apropriados.
A informação e orientação parental são fontes importantes para o sucesso do desenvolvimento da pessoa com TEA. A família pode contribuir de forma assertiva junto às demais pessoas que irão atuar com a criança, jovem ou adulto com TEA. Psicólogos desempenham um papel fundamental na orientação das famílias para a aceitação do diagnóstico e no desenvolvimento de rotinas estruturadas.
Montar uma equipe de apoio após o diagnóstico é crucial. Esta equipe pode incluir pediatras, neurologistas, geneticistas, psiquiatras, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e professores de educação especial. A comunicação frequente entre todos os terapeutas que trabalham com a criança é vital.
Os pais devem ser informados sobre diferentes opções de tratamento e a evidência de sua eficácia. É importante também educar outros membros da família e amigos sobre o TEA, adaptando a linguagem para promover compreensão e apoio. Existem diversos recursos e grupos de apoio disponíveis para as famílias. O Ministério da Saúde no Brasil, por exemplo, oferece cursos e uma rede de apoio e assistência através do Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo Centros Especializados em Reabilitação (CER) e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Em resumo, uma avaliação diagnóstica abrangente, seguida de um forte sistema de apoio e intervenção precoce, pode otimizar os resultados para crianças com TEA e suas famílias, ajudando-as a navegar pelos desafios e a promover o pleno potencial da criança.
